domingo, 25 de abril de 2010

Testemunho Vocacional (www.sav.org.br)



É natural que, adolescentes e jovens em certo momento se perguntem: “Que buscarei para minha vida futura? Que ideais e porque caminhos me convem ir?” Além de investigar nos livros de estudos, certamente muitos deles observam as pessoas concretas como exemplos possíveis de ser imitadas.

A respeito, uma das passagens bíblicas que me impressionam por seu realismo e espontaneidad começa com uma pergunta, segue com um convite e uma breve convivencia. Expressa uma pedagogia eficaz, que respeita profundamente a liberdade de quem procura recorrer seu propio caminho.

- “Que buscais?”, pergunta Jesus a dois jovens, perto do rio Jordão.

O que se le em seguida se pode denominar, com razão, uma “aula de mestre”.

Os jovens de hoje querem saber como vivem os “mestres”, tem interesse em particularidades das pessoas que lhes produzem admiração. No meio desta curiosidade, há uma busca da realidade mesma (coerencia, verdade, sinceridade) do “ídolo” que supera as aparências.

A satisfação de busca destes jovens é mais completa quando o que é “desvelado” o é de maneira personalizada, sem artificios. Justo aí, ocorrem excelentes provas vocacionais: os jovens, que ja nao suportam farisaísmos, sao capazes de rechaçar ou abraçar para sí mesmos este ou aquele modo de vida.

Deus é quem chama e constitui seus ministros para a evangelizaçao e a cura de almas na Igreja. É também claro que “os sinos dos projetos terrenos” são muito forte nos ouvídos dos batizados, obstruindo ou obnubilando muitas vezes a “vox Dei” que está na brisa mansa (1Rs 19,12). Os espaços sociais carecem de silencio, de meditaçao e “sintonía” para escutar o chamado divino; ao menos falta o silêncio interior. Porém Ele, como dono da Vinha, não a abandonará sem operários, Sua generosidade no chamamento se manifesta de múltiplas formas.

No processo de resposta à vocação ministerial não é estranha a presença de um mestre que, muito de perto, é como uma seta indicando a meta. Josué teve a Moisés como mestre, Samuel a Heli, Timoteo a Paulo… e assim por diante. O papa Paulo VI dice que o mundo moderno ouve mais às testemunhas que aos pregadores (E.N). Joáo Paulo II reafirma a importância desse testemunho (PDV. 39), e é este o tema da mensagem de Bento XVI para o dia do Bom Pastor.

Eu tive a graça de contar com uma pessoa equilibrada, simples e orante em meus primeiros passos vocacionais. Ainda adolescente, me dispus a acompanhar-lhe algumas vezes em seus trabalhos de assistência às comunidades. Nestas oportunidades, mais que por suas palavras, me fez ver sua fidelidade e dedicação às pessoas sem esperar nada em troca, sempre disponivel a ouvir e orientar sem arrogancia, sem pressa, sem elucubraçoes… O referido sacerdote, ordenado por Joao Paulo II em 1980, nao sabe o bem que me fez em seus “silencios”, em suas aulas “prácticas”.

Em minhas atividades pastorais como seminarista sempre falei da vocaçao sacerdotal; como reitor do Seminário Menor procurei acompanhar aos vocacionados através de visitas às suas familias, colegios e paróquias. Hoje -suponho- haverá algum deles (sacerdotes) para o qual aquelas visitas terao tido un significado positivo em sua decisao, mais que minhas palavras.

Evidentemente há muitos modos de chamamento ao sacerdocio ministerial, mas este processo, por assim dizer, “personalizado”, é evidente nas Sagradas Escrituras, e um dos mais eficazes na Historia da Igreja, até o dia de hoje. Se há sacerdotes que nao vivem sua vocaçao, muitos mais sao os que a vivem com intensidade de amor indiviso.

Creio que, nós sacerdotes, nao devemos aparecer como uns “desencarnados” da realidade, angélicos ou artistas: fizemos uma opçao pela qual entregamos a vida, sem temer a transparencia de nossa humanidade, de nossos sentimentos, hábitos e limitaçoes. Em tudo isto também haverá sinais de nossa configuraçao com Jesus Cristo a quem seguimos. O fundamental é que nao nos falte amor e doaçao sincera ao que elegimos como ocupaçao neste mundo (Rm 8,35).

Entao, queremos apresentar nossa “casa” aos jovens que perguntam: “Onde vives?”. Abrimos nossa porta para que vejam de perto em que consiste o “misterio” que envolve nosso “ministerio”: estar no mundo sem ser do mundo. Que descubram eles mesmos a fonte de nossa alegria. Ao menor gesto de interesse, queremos dizer-lhes: “Vinde e vereis”.

Deixaremos que falem nossas açoes, nao nos distanciaremos; nossa vocaçao nao é de “Mito”: em algum momento e sempre, o simulacro desaparece, e fica o que é. Na convivencia com um ou outro jovem, ja nao seremos nós quem falaremos e sim Aquele em quem procuramos nos configurar. E, se algo em nós, mui humano e pouco divino, aparecer nesta aula prática nao será motivo de susto para quem também viveu a circunstancia da debilidade. Nao lhes passará despercebido nosso empenho na “messe” e, sobretudo, o encantamento que dedicamos ao Senhor. E além disso, o Espírito Santo –protagonista maior- fecundará a boa semente nos jovens que buscam definir suas futuras ocupaçoes.

(Pe. Crésio Rodrigues / Direito Canónico em Pamplona-España).

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Aumenta o número de sacerdotes



Aumentam os católicos no mundo e também o número de sacerdotes e seminaristas, em particular na Ásia e África: é o que atestam os dados do Anuário Pontifício 2010, apresentado na manhã deste sábado ao Papa pelo Cardeal Secretário de Estado, Tarcisio Bertone, e pelo Substituto da Secretaria de Estado para os Assuntos Gerais, Dom Fernando Filoni.

Os dados estatísticos, referentes ao ano 2008, fornecem uma análise sintética das principais dinâmicas relacionadas à Igreja Católica nas 2.945 circunscrições eclesiásticas do Planeta. O volume estará proximamente à disposição nas livrarias católicas.

Bento XVI expressou a sua gratidão pelo Anuário que lhe foi oferecido manifestando grande interesse pelos dados ilustrados que mostram um aumento geral dos católicos no mundo: em 2008 foi registrada a cifra de 1 bilhão 166 milhões de fiéis batizados, com um incremento de 19 milhões (+1,7%) em relação ao ano precedente. Também considerando o crescimento da população mundial atingindo a cifra de 6 bilhões e 700 milhões de pessoas, se observa um pequeno aumento percentual da incidência dos católicos no mundo inteiro (de 17,33 para 17,40%).

Registra-se também em aumento o número de bispos no mundo, passado de 4.946 para 5.002 entre 2007 e 2008 (+1,13%). O aumento foi significativo na África (+1,83%) e nas Américas (+1,57%), enquanto na Ásia (+1,09%) e na Europa (0,70%) o crescimento se coloca abaixo da média geral. A Oceânia registra no mesmo período uma taxa de variação de -3%. Porém, tais dinâmicas diferenciadas não causaram substanciais variações na distribuição dos bispos por continente.

Outra evolução positiva, mas moderada (em torno de 1% no período 2000 – 2008) diz respeito ao número de sacerdotes, tanto diocesanos quanto religiosos, aumentado ao longo dos últimos nove anos, tendo passado de 405.178 no ano 2000 para 408.024 em 2007 e para 409.166 em 2008.

A distribuição do clero entre os continentes, em 2008, é caracterizada por uma forte prevalência de sacerdotes europeus (47,1%), os sacerdotes americanos representam 30% do clero mundial; o clero asiático representa 13,2%", o clero africano representa 8,7% e o da Oceânia representa 1,2%.

Entre o ano 2000 e 2008 não variou a incidência relativa dos sacerdotes da Oceânia; por outro lado, cresceu significativamente tanto o clero africano quanto o clero asiático, bem como o clero americano. Já o clero europeu diminuiu significativamente, passando de 51,5 para 47,1%.

Entre as figuras de agentes religiosos que ajudam a atividade pastoral dos bispos e dos sacerdotes, as religiosas professas constituem o grupo de maior peso numérico. Tais religiosas, que no mundo eram 801.185 no ano 2000, diminuem progressivamente, tanto que em 2008 contavam 739.067 (com uma diminuição relativa no período de 7,8%).

Ressalta-se que os grupos mais numerosos de religiosas se encontra na Europa (40,9%) e na América 27,5%) e que as contrações de maior relevo se manifestaram igualmente na Europa (-17,6%) e na América (-12,9%), além da contração registrada na Oceânia (-14,9%); enquanto na África e na Ásia se verificam notáveis aumentos (+21,2% para a África e +16,4% para a Ásia), que contrabalanceiam a referida diminuição, mas não o suficiente para compensá-la.

Em nível global, o número dos candidatos ao sacerdócio aumentou, passando de 115.919 em 2007 para 117.024 em 2008. Ao todo, no biênio houve uma taxa de aumento de cerca de 1%.

Tal variação relativa foi positiva na África (3,6%), na Ásia (4,4%) e na Oceânia (6,5%); já na Europa registrou uma queda de 4,3%. Por sua vez, a América apresenta uma situação quase estacionária.

Em 2009 foram criadas pelo Papa 8 novas sedes episcopais e uma prelazia; uma prelazia foi elevada a diocese e 3 prefeituras a vicariatos apostólicos. Ao todo foram nomeados 169 novos bispos. (RL)


radiovaticana

sábado, 17 de abril de 2010

Catequese do Papa: sacerdote é a voz de Cristo

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 14 de abril de 2010 (ZENIT.org).- Apresentamos, a seguir, a catequese dirigida pelo Papa aos grupos de peregrinos do mundo inteiro, reunidos na Praça de São Pedro para a audiência geral.

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Queridos irmãos e irmãs:

Neste período pascal, que nos conduz a Pentecostes e que nos encaminha também às celebrações de encerramento do Ano Sacerdotal, programadas para os dias 9, 10 e 11 de junho, quero dedicar ainda algumas reflexões ao tema do ministério ordenado, detendo-me na realidade fecunda da configuração do sacerdote com Cristo Cabeça, no exercício dos tria munera que recebe, isto é, das três funções de ensinar, santificar e governar.

Para compreender o que significa agir in persona Christi Capitis - na pessoa de Cristo Cabeça - por parte do sacerdote, e para entender também que consequências derivam da tarefa de representar o Senhor, especialmente no exercício destas três funções, é necessário esclarecer antes de mais nada o que se entende por "representação".

O sacerdote representa Cristo. O que quer dizer "representar" alguém? No senso comum, quer dizer, geralmente, receber uma delegação de uma pessoa para estar presente em seu lugar, falar e agir em seu lugar, porque aquele que é representado está ausente da ação concreta. Nós nos perguntamos: o sacerdote representa o Senhor da mesma forma? A resposta é não, porque, na Igreja, Cristo nunca está ausente, a Igreja é seu corpo vivo e a Cabeça da Igreja é Ele, presente e operante nela. Cristo nunca está ausente; pelo contrário, está presente de uma forma totalmente livre dos limites do espaço e do tempo, graças ao acontecimento da Ressurreição, que contemplamos de modo especial neste tempo da Páscoa.

Portanto, o sacerdote que age in persona Christi Capitis e em representação do Senhor; não age nunca em nome de um ausente, mas na própria pessoa de Cristo Ressuscitado, que se faz presente com sua ação realmente eficaz. Age realmente e realiza o que o sacerdote não poderia fazer: a consagração do vinho e do pão, para que sejam realmente presença do Senhor, a absolvição dos pecados. O Senhor faz presente sua própria ação na pessoa que realiza estes gestos.

Estas três funções do sacerdote - que a Tradição identificou nas diferentes palavras de missão do Senhor: ensinar, santificar e governar -, em sua distinção e profunda unidade, são uma especificação desta representação eficaz. Estas são, na verdade, as três ações do Cristo ressuscitado, o mesmo que hoje, na Igreja e no mundo, ensina e, assim, cria fé, reúne seu povo, cria presença da verdade e constrói realmente a comunhão da Igreja universal, santifica e guia.

A primeira funão sobre a qual eu gostaria de falar hoje é o munus docendi, isto é, a tarefa de ensinar. Hoje, em plena emergência educativa, o munus docendi da Igreja, exercido concretamente por meio do ministério de cada sacerdote, é particularmente importante. Vivemos em uma grande confusão sobre as escolhas fundamentais da nossa vida e os interrogantes sobre o que é o mundo, de onde vem, para onde vamos, o que temos que fazer para realizar o bem, como temos que viver, quais são os valores realmente pertinentes. Em relação a tudo isso, existem muitas filosofias opostas, que nascem e desaparecem, criando uma confusão sobre as decisões fundamentais, como viver, porque já não sabemos, normalmente, de que e para que fomos criados e para onde vamos. Nesta situação, realiza-se a palavra do Senhor, que teve compaixão da multidão porque era como ovelhas sem pastor (cf. Mc 6, 34).

O Senhor havia feito esta constatação quando viu milhares de pessoas que o seguiam no deserto, porque, na diversidade das correntes daquela época, já não sabiam qual era o verdadeiro sentido da Escritura, o que Deus dizia. O Senhor, movido pela compaixão, interpretou a Palavra de Deus, Ele mesmo é a Palavra de Deus, e deu, assim, uma orientação. Esta é a função in persona Christi do sacerdote: fazer presente, na confusão e na desorientação da nossa época, a luz da Palavra de Deus, a luz que é o próprio Cristo neste nosso mundo.

Portanto, o sacerdote não ensina ideias próprias, uma filosofia que ele mesmo inventou, encontrou ou da qual gosta; o sacerdote não fala a partir de si mesmo, não fala por si mesmo, talvez para criar admiradores ou um partido próprio; não diz coisas próprias, invenções próprias, mas, na confusão de todas as ideologias, o sacerdote ensina em nome de Cristo presente, propõe a verdade, que é o próprio Cristo, sua Palavra, seu modo de viver e ir adiante. Para o sacerdote, vale o que Cristo disse de si mesmo: "Minha doutrina não é minha" (Jo 7, 16), isto é, Cristo não propõe ele mesmo, mas, como Filho, é a voz, a Palavra do Pai. Também o sacerdote deve dizer sempre e agir assim: "Minha doutrina não é minha, não propago minhas ideias ou aquilo de que eu gosto, mas sou a boca e o coração de Cristo e faço presente esta doutrina única e comum, que criou a Igreja universal e que cria vida eterna".

Este fato, ou seja, que o sacerdote não inventa, não cria nem proclama ideias pessoais porque a doutrina que ele anuncia não é sua, mas de Cristo, não significa, por outro lado, que ele seja neutro, quase como um porta-voz que lê um texto do qual talvez não se apropria. Também neste caso vale o modelo de Cristo, que disse: Eu não venho por mim mesmo e não vivo por mim mesmo, mas venho do Pai e vivo pelo Pai. Por isso, nesta profunda identificação, a doutrina de Cristo é a do Pai e Ele mesmo é um com o Pai.

O sacerdote que anuncia a Palavra de Cristo, a fé da Igreja e não suas próprias ideias, deve dizer também: Eu não vivo de mim e para mim, mas vivo com Cristo e de Cristo e, por isso, o que Cristo nos disse se converte na minha palavra, ainda que não seja minha.

A vida do sacerdote deve identificar-se com Cristo e, dessa forma, a palavra não própria se converte, no entanto, em uma palavra profundamente pessoal. Santo Agostinho, sobre este tema, falando dos sacerdotes, disse: "E nós, o que somos? Ministros (de Cristo), seus servidores; porque o que vos distribuímos não é nosso, mas tirado da sua despensa. E também nós vivemos dela, porque somos servos como vós" (Discurso 229/E, 4).

O ensinamento que o sacerdote está chamado a oferecer - as verdades da fé - deve ser interiorizado e vivido em um intenso caminho espiritual e pessoal, para que, assim, o sacerdote realmente entre em uma profunda e interior comunhão com o próprio Cristo. O sacerdote crê, acolhe e tenta viver, antes de tudo como seu, o que o Senhor ensinou e a Igreja transmitiu, nesse percorrido de ensimesmamento com o próprio ministério, do qual São João Maria Vianney é uma testemunha exemplar (cf. Carta para a proclamação de um Ano Sacerdotal). "Unidos na mesma caridade - afirma novamente Santo Agostinho -, todos somos ouvintes d'Aquele que é para nós no céu o único Mestre" (Enarr. in Ps. 131, 1, 7).

A voz do sacerdote, por conseguinte, frequentemente poderia parecer "voz que grita no deserto" (Mc 1, 3), mas precisamente nisso consiste sua força profética: no não ser nunca homologado nem homologável a uma cultura ou mentalidade dominante, mas em mostrar a única novidade capaz de operar uma renovação autêntica e profunda do homem, isto é, que Cristo é o Vivente, é o Deus próximo que age na vida e para a vida do mundo e nos oferece a verdade, a maneira de viver.

Na preparação atenta da pregação festiva, sem excluir a ferial, no esforço de formação catequética, nas escolas, nas instituições acadêmicas e, de maneira especial, por meio desse livro não escrito que é sua própria vida, o sacerdote é sempre "docente", ele ensina. Mas não com a presunção de quem impõe verdades próprias, e sim com a humilde e alegre certeza de quem encontrou a Verdade, foi agarrado e transformado por ela e, por isso, não pode senão anunciá-la. O sacerdócio, de fato, não pode ser escolhido por ninguém, não é uma forma de alcançar a segurança na vida, de conquistar uma posição social: ninguém pode oferecê-lo nem buscá-lo por si só. O sacerdócio é uma resposta ao chamado do Senhor, à sua vontade, para chegar a ser anunciadores não de uma verdade pessoal, mas da Sua verdade.

Queridos irmãos sacerdotes, o povo cristão pede para escutar dos nossos ensinamentos a genuína doutrina eclesial, para, por meio dela, poder renovar o encontro com Cristo que dá a alegria, a paz, a salvação. A Sagrada Escritura, os escritos dos Padres e dos Doutores da Igreja, o Catecismo da Igreja Católica são, a este respeito, pontos de referência imprescindíveis no exercício do munus docendi, tão essencial para a conversão, para o caminho de fé e para a salvação dos homens. "Ordenação sacerdotal significa ser imersos (...) na Verdade" (Homilia para a Missa Crismal, 9 de abril de 2009), essa Verdade que não é simplesmente um conceito ou um conjunto de ideias a serem transmitidas e assimiladas, mas é a Pessoa de Cristo, com a qual, pela qual e na qual se vive e, assim, necessariamente, nasce também a atualidade e a compreensibilidade do anúncio. Somente esta consciência de uma Verdade feita Pessoa na Encarnação do Filho justifica o mandato missionário: "Ide pelo mundo inteiro e proclamai a Boa Nova a toda a criação" (Mc16, 15). Somente sendo a Verdade, está destinado a toda criatura, não é uma imposição de algo, mas a abertura do coração àquilo por que foi criado.

Queridos irmãos e irmãs: o Senhor confiou aos sacerdotes uma grande tarefa: ser anunciadores da sua Palavra, da Verdade que salva; ser sua voz no mundo, para levar aquilo que contribui para o verdadeiro bem das almas e para o autêntico caminho de fé (cf. 1 Cor 6, 12).

Que São João Maria Vianney sirva de exemplo para todos os sacerdotes. Ele era homem de grande sabedoria e força heroica em resistir às pressões culturais e sociais da sua época, para poder levar as almas a Deus: simplicidade, fidelidade e imediatismo eram as características essenciais da sua pregação, da transparência da sua fé e da sua santidade. O povo cristão era assim edificado e, como acontece com os autênticos mestres de todos os tempos, reconhecia nele a luz da Verdade; reconhecia nele, em definitivo, o que sempre deveria ser reconhecido em um sacerdote: a voz do Bom Pastor.

[No final da audiência, o Papa cumprimentou os peregrinos em vários idiomas. Em português, disse:]

Queridos irmãos e irmãs:

No decorrer deste Ano Sacerdotal, gostaria ainda de dedicar algumas reflexões sobre o tema do Ministério Ordenado. O sacerdote, configurado com Cristo cabeça, não o representa como se ele estivesse ausente, mas, ao contrário, atua na mesma Pessoa de Cristo. Assim sendo, as três funções fundamentais do sacerdote - ensinar, santificar e governar -, são na realidade ações do próprio Cristo Ressuscitado. O munus docendi, ou seja, a função de ensinar, deve ser exercida pelo sacerdote não como uma apresentação das suas ideias pessoais, mas como um anúncio daquilo que Deus revelou de si. Estas verdades devem ser, em primeiro lugar, acolhidas e vividas pelo próprio sacerdote. Com efeito, o sacramento da Ordem leva o sacerdote a estar imerso na Verdade, uma Verdade que é muito mais do que um conceito; uma Verdade que é uma pessoa: Jesus Cristo.

Amados peregrinos de língua portuguesa, sede bem-vindos! A todos saúdo com grande afeto e alegria, de modo especial a quantos vieram do Brasil e de Portugal com o desejo de encontrar o Sucessor de Pedro. Desça a minha bênção sobre vós, vossas famílias e comunidades. Muito obrigado!

[Apelo lançado após as saudações:]

Meu pensamento se dirige à China e às populações atingidas por um forte terremoto, que causou numerosas perdas em vidas humanas, feridos e ingentes danos. Rezo pelas vítimas e estou espiritualmente perto das pessoas provadas por essa tão grande calamidade; para elas, imploro a Deus alívio no sofrimento e coragem nestas adversidades. Desejo que não falte a solidariedade comum.

[Tradução: Aline Banchieri

©Libreria Editrice Vaticana]

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O ENCERRAMENTO DO ANO SACERDOTAL

Roma, 12 de abril de 2010
Caros Presbíteros,

A Igreja sem dúvida está muito feliz com o Ano Sacerdotal e agradece ao Senhor por haver inspirado o Santo Padre a decidir sua realização. Todas as informações que chegam aqui a Roma sobre as numerosas e multíplices iniciativas programadas pelas Igrejas locais no mundo inteiro para realizar este ano especial constituem a prova de como foi bem recebido e - podemos dizer – correspondeu a um verdadeiro e profundo anseio dos presbíteros e de todo o povo de Deus. Estava na hora de dar uma atenção especial de reconhecimento e de empreendimento em favor do grande, laborioso e insubstituível presbitério e de cada presbítero da Igreja.

É verdade que alguns, mas proporcionalmente muito poucos, presbíteros cometeram horríveis e gravíssimos delitos de abuso sexual contra menores, fatos que devemos rejeitar e condenar de modo absoluto e intransigente. Devem eles responder diante de Deus e diante dos tribunais, também civis. Mas estamos antes de mais nada do lado das vítimas e queremos dar-lhes apoio tanto na recuperação como em seus direitos ofendidos.

Por outro lado, os delitos de alguns não podem absolutamente ser usados para manchar o inteiro corpo eclesial dos presbíteros. Quem o faz, comete uma clamorosa injustiça. A Igreja, neste Ano Sacerdotal, procura dizer isto à sociedade humana. Qualquer pessoa de bom senso e boa vontade o entende.

Dito necessariamente isso, voltamos a vós, caros presbíteros. Queremos dizer-vos, mais uma vez, que reconhecemos o que sois e o que fazeis na Igreja e na sociedade. A Igreja vos ama, vos admira e vos respeita. Sois também alegria para nossa gente católica no mundo, que vos acolhe e apoia, principalmente nestes tempos de sofrimentos.

Daqui a dois meses chegaremos ao encerramento do Ano Sacerdotal. O Papa, caros sacerdotes, convida-vos de coração a vir de todo o mundo a Roma para este encerramento nos dias 9, 10 e 11 de junho próximo. De todos os países do mundo. Dos países mais próximos de Roma dever-se-ia poder esperar milhares e milhares, não é verdade? Então, não recuseis o convite premuroso e cordial do Santo Padre. Vinde e Deus vos abençoará. O Papa quer confirmar os presbíteros da Igreja. A vossa presença numerosa na Praça de São Pedro constituirá também uma forma propositiva e responsável de os presbíteros se apresentarem, prontos e não intimidados, para o serviço à humanidade, que lhes foi confiado por Jesus Cristo. A vossa visibilidade na praça, diante do mundo hodierno, será uma proclamação do vosso envio não para condenar o mundo, mas para salvá-lo (cfr. Jo 3,17 e 12,47). Em tal contexto, também o grande número terá um significado especial.

Para essa presença numerosa dos presbíteros no encerramento do Ano Sacerdotal, em Roma, há ainda um motivo particular, que a Igreja hoje tem muito a peito. Trata-se de oferecer ao amado Papa Bento XVI nossa solidariedade, nosso apoio, nossa confiança e nossa comunhão incondicional, diante dos frequentes ataques que lhe são dirigidos, no momento atual, no âmbito de suas decisões referentes aos clérigos incursos nos delitos de abuso sexual contra menores. As acusações contra o Papa são evidentemente injustas e foi demonstrado que ninguém fez tanto quanto Bento XVI para condenar e combater corretamente tais crimes. Então, a presença massiva dos presbíteros na praça com Ele será un sinal forte da nossa decidida rejeição dos ataques de que è vítima. Portanto, vinde também para apoiar o Santo Padre.

O encerramento do Ano Sante um encerramento, mas um novo início. Nós, o povo de Deus e os pastores, queremos agradecer a Deus por este período privilegiado de oração e de reflexão sobre o sacerdócio. Ao mesmo tempo, propomo-nos de estar sempre atentos ao que o Espírito Santo quer nos dizer. Entretano, voltaremos ao serviço de nossa missão na Igreja e no mundo com alegria renovada e com a convicção de que Deus, o Senhor da história, fica conosco, seja nas crises seja nos novos tempos.

A Virgem Maria, Mãe e Rainha dos sacerdotes, interceda por nós e nos inspire no seguimento de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor.


Cardeal Cláudio Hummes
Arcebispo Emérito de São Paulo
Prefeito da Congregação para o Clero

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Mensagem do Prefeito da Congregação para o Clero para o 13º Encontro Nacional dos Presbíteros

Povo deseja vivamente que seus sacerdotes sejam homens de Deus
Mensagem aos padres brasileiros do prefeito da Congregação para o Clero
CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010 (ZENIT.org).- Apresentamos a mensagem que o prefeito da Congregação para o Clero, cardeal Cláudio Hummes, enviou aos cerca de 500 padres reunidos desde ontem em Itaici, município de Indaiatuba (São Paulo), para o 13º Encontro Nacional de Presbíteros.

* * *

Caros irmãos no sacerdócio,

“Fidelidade de Cristo, fidelidade do Sacerdote!”, eis o tema do Ano Sacerdotal que estamos vivenciando. O Papa Bento XVI deseja que este ano especial seja um tempo de profunda renovação interior dos sacerdotes. Justamente por essa razão, propõe São João Maria Vianney como modelo de vida sacerdotal, um exemplo antigo, mas com uma mensagem de vida e santidade sacerdotal que são perenes e atuais.

A Cura d’Ars dizia que “um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus é o maior tesouro que o Bom Deus possa dar a uma paróquia e uma das dádivas mais preciosas da misericórdia divina”. Ser pastor segundo o coração de Deus, eis o grande desafio para os sacerdotes de todos os tempos, eis o maior tesouro que o nosso Pai poderia oferecer aos fiéis de nossas comunidades.

O sacerdote será Bom Pastor na medida em que, através do exercício quotidiano do seu ministério, se dedicar integralmente a Cristo e, por Ele, com Ele e Nele, aos irmãos, em total fidelidade, sempre a exemplo do mesmo Senhor. Por essa razão, o apelo à fidelidade quer recordar a cada um de nós, o feliz dever de renovar os compromissos assumidos no dia da nossa Ordenação, de sermos, de fato, homens pobres, castos, obedientes, fiéis anunciadores do Evangelho, a todos sem exceção, em espírito de verdadeira comunhão eclesial.

O povo brasileiro, sedento de Deus, deseja vivamente que seus sacerdotes sejam homens de Deus. Por sua vez, o sacerdote não se tornará “homem de Deus” se não for “homem de oração”. Assim sendo, na vida do sacerdote a oração e a intimidade com Deus são essenciais e insubstituíveis. A oração na vida do presbítero ou ocupa um lugar central, ou será um belo ideal, distante de ser concretizado.

O Papa Bento XVI, em sua homilia da Quinta‐feira Santa de 2006, afirma que “ser sacerdote significa ser homem de oração”. Se o trabalho pastoral não for precedido e acompanhado pela oração, perderá seu valor e sua eficácia. O tempo que empregamos no cultivo da amizade com Cristo, na oração pessoal e litúrgica – concretamente na dedicação de um tempo determinado e quotidiano à meditação e na fiel recitação da Liturgia das Horas –, é um tempo de atividade autenticamente pastoral. Por essa razão, o sacerdote deve ser, sempre, um homem de oração. Não nos iludamos: se falta a oração pessoal na vida do presbítero, sua ação pastoral será estéril e correrá o risco de perder de vista o “primeiro Amor”, ao qual entregou incondicionalmente sua vida, naquele dia memorável e cheio de generosidade, o dia da sua ordenação sacerdotal.Em referência à programação para o Ano Sacerdotal, gostaríamos de lembrar‐vos do Encontro Internacional de Sacerdotes, com o Santo Padre, em Roma, nos dias 9, 10 e 11 de junho do ano corrente, por ocasião do encerramento deste tempo de graça. Queremos fazer deste encontro um marcante gesto de comunhão eclesial, com a presença de sacerdotes das várias nações do mundo, junto ao Sucessor de Pedro. Todos são convidados a participar deste evento. Desejamos poder contar com um significativo número de sacerdotes do Brasil, pois poderá significar uma feliz ocasião para agradecer ao Santo Padre seu carinho e atenção para com o povo brasileiro, especialmente depois de sua visita par a abertura da Conferência Geral do Episcopado Latino‐americano e do Caribe, em Aparecida.

Caros irmãos, gostaríamos de exortar‐vos, com aquelas mesmas palavras de São Paulo: “Estai sempre alegres. Orai continuamente. Em todas as circunstâncias, daí graças, porque esta é a vontade de Deus, em Cristo Jesus, a vosso respeito (...) Que o próprio Deus da paz vos santifique inteiramente, e que todo o vosso ser – o espírito, a alma e o corpo – seja guardado irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo!” (1 Tess. 5, 16‐18.23s).

Com estes mesmos sentimentos queremos que continuais a viver o Ano Sacerdotal: sempre alegres, porque grande é o dom da vossa vocação e urgente um novo ardor missionário, a fazer‐se presente no coração sacerdotal de cada um de vós. Despedimo‐nos, implorando ao Senhor Jesus que vos abençoe e santifique com a sua graça!

Cidade do Vaticano, 03 de fevereiro de 2010.

Card. Cláudio Hummes

Arcebispo Emérito de São Paulo - Prefeito da Congregação para o Clero

Dom Mauro Piacenza

Arcebispo tit. de Victoriana - Secretário

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Mensagem do Papa

Tema: “O testemunho suscita vocações”

Veneráveis Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio, caros irmãos e irmãs!

O 47º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, que se celebra no 4º Domingo da Páscoa – Domingo do “Bom Pastor” –, em 25 de abril de 2010, oferece-me a oportunidade de propor à vossa reflexão um tema que está em comunhão com o Ano Sacerdotal: O testemunho suscita vocações. A fecundidade da proposta vocacional, de fato, depende em primeiro lugar da ação gratuita de Deus, mas, de acordo com a experiência pastoral, é favorecida também pela qualidade e riqueza do testemunho pessoal e comunitário de todos quantos já responderam ao chamado do Senhor no ministério sacerdotal e na vida consagrada. Pois o seu testemunho pode suscitar em outros o desejo de corresponder, por sua vez, com generosidade, ao apelo de Cristo. O tema está, assim, muito ligado à vida e missão dos sacerdotes e dos consagrados. Portanto, desejo convidar todos aqueles que o Senhor chamou para trabalhar na sua vinha a renovarem sua fiel resposta, sobretudo neste Ano Sacerdotal, o qual foi proclamado por ocasião dos 1 50 anos de falecimento de São João Maria Vianney, o Cura D’Ars, modelo sempre atual de presbítero e pároco.
Já no Antigo Testamento os profetas tinham consciência de que eram chamados a testemunhar aquilo que anunciavam, dispostos a enfrentar também as incompreensões, as rejeições e perseguições. A tarefa confiada a eles por Deus os envolvia completamente, como um “fogo ardente” no coração, que não se pode aguentar (cf. Jr 20,9), e, por isso, estavam prontos a entregar ao Senhor não somente a voz, mas cada aspecto de suas vidas. Na plenitude dos tempos, será Jesus, o enviado do Pai (cf. Jo 5,36), a testemunhar com sua missão o amor de Deus à humanidade, sem distinção, com especial atenção aos últimos, aos pecadores, aos marginalizados, aos pobres. Ele é o supremo Testemunho de Deus e de seu desejo de salvação. Na aurora dos novos tempos, João Batista, com uma vida inteiramente dedicada a preparar o caminho de Cristo, testemunha que no Filho de Maria de Nazaré cumprem-se as promessas de Deus. Quando vê Jesus vindo ao rio Jordão, onde estava batizando, indica-o aos seus discípulos co mo “o cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). O seu testemunho é tão fecundo que dois de seus discípulos, ouvindo falar assim, “passaram a seguir Jesus” (Jo 1,37).
Também a vocação de Pedro, como escreve o evangelista João, passa pelo testemunho do irmão, André, o qual, após ter encontrado o Mestre e ter respondido ao seu convite de permanecer com Ele, sente a necessidade de logo lhe dizer aquilo que descobriu no seu “habitar” com o Senhor: “Encontramos o Cristo! – que quer dizer Messias. Então, conduziu-o até Jesus” (Jo 1,41-42). Assim aconteceu com Natanael – Bartolomeu –, graças ao testemunho de um outro discípulo, Filipe, que o comunica com alegria sua grande descoberta: “Encontramos Jesus, o filho de José, de Nazaré, aquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, bem como os Profetas” (Jo 1,45). A iniciativa livre e gratuita de Deus encontra e interpela a responsabilidade humana de quantos acolhem o seu convite a se tornarem instrumentos, com o próprio testemunho, do chamado divino. Isto acontece ainda hoje na Igreja: Deus usa o testemunho dos sacerdotes, fiéis à sua missão, para suscitar novas vocações sacerdotais e religiosas a ser viço de Seu Povo. Por esta razão gostaria de destacar três aspectos da vida do presbítero, que parecem ser essenciais para um eficaz testemunho sacerdotal.
Elemento fundamental e reconhecível de toda vocação ao sacerdócio e à consagração é a amizade com Cristo. Jesus vivia em constante união com o Pai, e é isto que suscitava nos discípulos o desejo de viver a mesma experiência, aprendendo com Ele a comunhão e o diálogo incessante com Deus. Se o sacerdote é o “homem de Deus”, que pertence a Deus e ajuda a torná-lo conhecido e ser amado, não pode deixar de cultivar uma profunda intimidade com Ele, permanecer no seu amor, escutando sua Palavra. A oração é o primeiro testemunho que suscita vocações. Como o apóstolo André, que comunica ao irmão ter conhecido o Mestre, igualmente quem deseja ser discípulo e testemunha de Cristo deve tê-lo “visto” pessoalmente, deve tê-lo conhecido, deve ter aprendido a amá-lo e a estar com Ele.
Outro aspecto da consagração sacerdotal e da vida religiosa é o dom total de si a Deus. Escreve o apóstolo João: “Nisto sabemos o que é o amor: Jesus deu a vida por nós. Portanto, também nós devemos dar a vida pelos irmãos” (1Jo 3,16). Com estas palavras, ele convida os discípulos a entrar na mesma lógica de Jesus que, ao longo de sua existência, cumpriu a vontade do Pai até a doação total de si sobre a cruz. Manifesta-se aqui a misericórdia de Deus em toda sua plenitude; amor misericordioso que venceu as trevas do mal, do pecado e da morte. A imagem de Jesus, que na Última Ceia levanta-se da mesa, retira o manto, pega uma toalha, amarra-a na cintura e se inclina para lavar os pés dos Apóstolos, exprime o sentido do serviço e do dom manifestados em sua vida, obediente à vontade do Pai (cf. Jo 13,3-15). No seguimento de Jesus, todo chamado à vida de especial consagração deve esforçar-se para testemunhar o dom total de si a Deus. Em seguida, nasce a capacidade de doação aos que a Providência lhe confia no ministério pastoral, com dedicação plena, contínua e fiel, e com a alegria de se tornar companheiro de viagem de tantos irmãos, para que se abram ao encontro com Cristo e sua Palavra torne-se luz para o seu caminho. A história de toda vocação está interligada, quase sempre, com o testemunho de um sacerdote que vive com alegria o dom de si mesmo aos irmãos pelo Reino dos Céus. Isto porque a proximidade e a palavra de um padre são capazes de fazer despertar interrogações e de conduzir mesmo a decisões definitivas (cf.. João Paulo II, Exortação Apostólica Pós-sinodal Pastores dabo vobis, 39).
Enfim, um terceiro aspecto que não pode faltar ao caracterizar o sacerdote e a pessoa consagrada é o viver a comunhão. Jesus indicou como sinal, distintivo de quem deseja ser seu discípulo, a profunda comunhão no amor: “Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35). Em particular, o sacerdote deve ser um homem de comunhão, aberto a todos, capaz de fazer caminhar unido o rebanho inteiro que a bondade do Senhor lhe confiou, ajudando a superar as divisões, a enxugar lágrimas, a resolver divergências e incompreensões, a perdoar as ofensas. Em julho de 2005, num encontro com o Clero de Aosta, afirmei que se os jovens vêem os sacerdotes isolados e tristes, certamente não se sentem encorajados a seguir o exemplo. Continuarão duvidosos se são levados a considerar que este é o futuro de um padre. No entanto, é importante realizar a comunhão de vida, mostrando-lhes a beleza de ser sacerdote. Então, o jovem dirá: “este pode ser um futuro t ambém para mim, assim se pode viver” (Insegnamenti I, [2005], 354). O Concílio Vaticano II, referindo-se ao testemunho que suscita vocações, destaca o exemplo da caridade e da fraterna colaboração que devem oferecer os sacerdotes (cf. Decreto Optatam totius, 2).
Alegra-me recordar o que escreveu meu venerado Predecessor, João Paulo II: “A própria vida dos padres, a sua dedicação incondicional ao rebanho de Deus, o seu testemunho de amoroso serviço ao Senhor e à sua Igreja – testemunho assinalado pela opção da cruz acolhida na esperança e na alegria pascal –, a sua concórdia fraterna e o seu zelo pela evangelização do mundo são o primeiro e mais persuasivo fator de fecundidade vocacional” (Pastores dabo vobis, 41). Poderíamos afirmar que as vocações sacerdotais nascem do contato com os sacerdotes, quase como uma herança preciosa comunicada com a palavra, o exemplo e toda a existência.
Isto também se aplica à vida consagrada. O próprio existir dos religiosos e das religiosas fala do amor de Cristo, quando esses o seguem em plena fidelidade ao Evangelho e com alegria assumem os critérios de valor e comportamento. Tornam-se “sinais de contradição” para o mundo, cuja lógica, muitas vezes, é inspirada no materialismo, no egoísmo e no individualismo. Sua fidelidade e a força de seu testemunho, porque se deixam conquistar por Deus renunciando a si mesmos, continuam a suscitar em muitos jovens o desejo de seguir, por sua vez, Cristo para sempre, de modo generoso e completo. Imitar Cristo casto, pobre e obediente, e se identificar com Ele: eis o ideal da vida consagrada, testemunho do primado absoluto de Deus na vida e na história da humanidade.
Cada presbítero, cada consagrado e consagrada, fiéis à sua vocação, transmitem a alegria de servir a Cristo, e convidam todos os cristãos a responder ao universal chamado à santidade. Portanto, para promover as vocações específicas ao ministério sacerdotal e à vida consagrada, para tornar mais forte e eficaz o anúncio vocacional, é indispensável o exemplo daqueles que já disseram o próprio “sim” a Deus e ao projeto de vida que Ele tem para cada um. O testemunho pessoal, feito de escolhas concretas e de vida, encorajará os jovens a tomar decisões responsáveis, por sua vez, investindo o próprio futuro. Para ajudá-los é necessário a arte do encontro e do diálogo, capaz de iluminá-los e acompanhá-los, através sobretudo do exemplo de vida, vivida como vocação. Assim fez o Santo Cura D’Ars, o qual, sempre em contato com os seus paroquianos, “ensinava sobretudo com o testemunho da vida. Pelo seu exemplo, os fiéis aprendiam a rezar” (Carta de Proclamação do Ano Sacerdotal, 16/06/2009 ).
Que este Dia Mundial possa ser, mais uma vez, uma preciosa ocasião a muitos jovens para refletir sobre a própria vocação, respondendo com simplicitade, confiança e plena disponibilidade. A Virgem Maria, Mãe da Igreja, guarde cada pequena semente de vocação no coração daqueles que o Senhor chama a segui-lo mais de perto; faça com que se torne uma árvore viçosa, carregada de frutos para o bem da Igreja e de toda a humanidade. Para isto eu rezo, enquanto concedo a todos a Bênção Apostólica.


Do Vaticano, 13 de novembro de 2009.