quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Estudo

A Vocação na Bíblia

A Bíblia é como um algum de fotografias em que se encontra uma variedade imensa de vocações que trazem luz para iluminar a vocação que sentimos dentro de nós.
No apêndice do estudo: “Juventude: vocação e compromisso à luz da Palavra de Deus”, frei Carlos Mesters traça alguns perfis dos vocacionados e vocacionadas apresentandos na Sagrada Escritura. O autor percorreu as páginas da Bíblia olhando de perto o chamado de algumas das pessoas mais conhecidas, dando, para cada uma delas, uma breve chave de leitura.
O tema foi apresentado no XXI Curso de Verão, em janeiro de 2008, em São Paulo (SP), cuja temática geral era: “Juventude: caminhos para outro mundo possível”. O Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização (CESEP) publicou, junto com a Paulus Editora, um livro com todo o conteúdo do curso (cf. http://www.cesep.org.br/). Há inclusive, a opção de se fazer este mesmo curso “on line”.
O objetivo de Carlos Mesters, com o apêndice ao seu estudo, foi mostrar a variedade tanto no chamado como na resposta. Ele chega a designar “álbum da Família de Deus” ao elenco apresentado, feito “seguindo o critério da ordem cronológica, desde o início do tempo dos patriarcas do século XVIII antes de Cristo até o fim da época das primeiras comunidades cristãs do fim do primeiro século depois de Cristo”. O autor recorda que outros critérios de divisão e seleção poderiam ser utilizados, como, por exemplo, a origem da vocação, função ou missão, problemas enfrentados pela pessoa chamada na execução da sua vocação, mulheres ou homens, jovens ou idosos. E lembra que o quadro poderá ser completado, “olhando a vocação das muitas outras pessoas que não foram lembradas no elenco”. As perguntas colocadas ao final do apêndice ajudam no estudo aprofundado de cada uma das vocações.
Aqui apresentamos apenas a relação dos vocacionados e vocacionadas da época de Jesus e das comunidades dos primeiros cristãos. Mas recomendamos o estudo completo, inclusive do tema apresentado no Curso de Verão.

A variedade das vocações dentro do mesmo Projeto de Deus
A maneira de Deus chamar as pessoas é muito variada. Nenhuma vocação se repete. Chama Abraão e Sara de um jeito, e Maria Madalena de outro jeito. Também a maneira de perceber a vocação é diferente, e diferentes são as respostas que são dadas. Uns oferecem resistências, outros aceitam logo. Uns, como Jeremias, têm problemas e dúvidas, lutam com a vocação até o fim da sua vida. Outros, como Amós, não têm problemas nem dúvidas e aceitam o chamado que se torna eixo de suas vidas. Uns são chamados desde a juventude; e outros, só depois de velhos. Uns são chamados para uma tarefa bem limitada; e outros, para uma missão que envolve a vida inteira.
A Palavra que chama, às vezes, se impõe com força irresistível, como fogo dentro dos ossos (Jr 20, 9) ou como martelo que arrebenta as rochas (Jr 23, 29). Outras vezes, deixa a pessoa na revolta e no sofrimento (Jr 20, 7-18), outras vezes na alegria (Jr 15, 16). Para uns, o chamado de Deus vem com muita clareza; para outros, não há clareza nenhuma, eles não percebem nada de Deus. Sentem apenas uma necessidade humana que não pode ficar sem resposta. E quando, no julgamento final, Deus os elogia (Mt 25, 34-35), eles dizem: “Quando foi que vi o senhor com fome e sede, sem roupa e na prisão, doente? Não estou lembrado!” (Mt 25, 37-39). E Deus responderá: “Foi quando você ajudou aquela pessoa pobre. Era eu!” (Mt 25, 40).
Umas pessoas são chamadas para libertar o povo (Is 61, 1; Ex 3, 10); outras, para organizá-lo, para presidir suas assembléias, organizar o culto, cantar, profetizar, denunciar, animar, anunciar, aconselhar, guiar, reprimir, governar (Rm 12, 4-8; 1Cor 12, 4-11). Vocação para missões grandes e missões pequenas, importantes e menos importantes, ligadas ao povo todo e ligadas a um pequeno grupo. Missões que valem para muitas gerações, outras que valem para pouco tempo ou só para a pessoa que a recebe.
Para chamar as pessoas, Deus usa os mais variados meios de comunicação: sorteio, aclamação, indicação da comunidade, percepção das necessidades do povo, ação de bravura, perigo de guerra, chamado interior, aparição de anjo, sonhos, chamado de um companheiro etc. etc. ... Nenhuma vocação se repete.
O chamado de Deus não tira a liberdade das pessoas, pois elas reagem: “Quem sou eu?”. Cada um reage do seu jeito diante da missão que recebe. Cada um trava duas lutas dentro de si: a grande luta da transformação do mundo e a pequena luta da conversão pessoal. Ambas são igualmente importantes.
Zacarias: não foi capaz de crer no chamado e ficou mudo (Lc 1, 11-22);
Isabel: era estéril, mas acreditou no chamado, concebeu e tornou-se capaz de reconhecer a presença de Deus em Maria (Lc 1, 23-25.41-45);
João Batista: chamado desde o seio materno (Lc 1, 11-17), assume a missão com coragem (Mc 6, 17-29). É o primeiro profeta depois de muitos séculos de silêncio (Lc 1, 59-66; Mt 11, 7-15);
José: chamado a ser o esposo de Maria, rompe com as normas do machismo da época, e não manda Maria embora (Mt 1, 18-25);
Maria: acostumada a ruminar os fatos (Lc 2, 19-51), percebe e acolhe a Palavra, trazida pelo anjo Gabriel, a ponto de encarná-la em seu seio, em sua própria vida (Lc 1, 26-38);
Apóstolos: foram chamados para estarem com Jesus, para anunciarem a palavra e para combaterem o poder do mal (Mc 3, 13-19). O chamado de cada um dos doze e de algumas discípulas encontra-se no capítulo VI: “Jesus chama pessoas para estarem com ele e irem em missão”;
Pedro: pessoa generosa e entusiasta (Mc 14, 29.31; Mt 14, 28-29), mas na hora do perigo e da decisão, o seu coração encolhia e voltava atrás (Mt 14, 30; Mc 14, 66-72). Jesus rezou por ele (Lc 22, 31);
Tiago e João: dois irmãos. Estavam dispostos a sofrer com Jesus (Mc 10,39), mas eram violentos (Lc 9, 54). Jesus os chamou “filhos do trovão” (Mc 3, 17). João pensava ter o monopólio de Jesus. Jesus o corrigiu (Mc 9, 28-40);
Filipe: tinha jeito para colocar os outros em contato com Jesus (Jo 1, 45-46), mas não eram muito prático em resolver os problemas (Jô 6, 5-7; 12, 20-22). Parecia um pouco ingênuo. Jesus chegou a perder a paciência com ele: “Filipe, tanto tempo que estou com vocês, e você ainda não me conhece?” (Jô 14, 8-9);
André: pessoa prática. Foi ele que encontrou o menino com cinco pães e dois peixes (Jo 6, 8-9). É a ele que Filipe se dirige para resolver o caso dos gregos que queriam ver Jesus (Jo 12, 20-22), e é André que chama Pedro para encontrar-se com Jesus (Jo 1, 40-43);
Tomé: com teimosia sustentou sua opinião, uma semana inteira, contra o testemunho de todos os outros (Jo 20, 24-25). É que o Jesus ressuscitado em quem Tomé acreditava tinha de ser o mesmo Jesus que fora crucificado e que carregava os sinais da tortura no corpo (Jo 20, 26-28);
Natanael: era bairrista e não podia admitir que algo de bom pudesse vir de Nazaré (Jo 1, 46). Mas quando Jesus lhe explica, ele s entrega (Jo 1, 49). Este Natanael aparece só evangelho de João. Alguns o identificam com o Bartolomeu que aparece na lista do evangelho de Marcos (Mc 3, 18);
Mateus: era um publicano, pessoa excluída pala religião dos judeus (Mt 9, 9). Sabemos pouco da sua vida. Nos evangelhos de Marcos e Lucas ele é chamado Levi (Mc 2, 14; Lc 5, 27). O nome Mateus significa “dom de Deus”. Os excluídos são “mateus” (dom de Deus) para a comunidade;
Simão: era um zelote (Mc 3, 18). Dele, só sabemos o nome e o apelido. Nada mais. Ele era zelote, isto é, fazia parte do movimento popular que na época se opunha à dominação romana;
Judas: guardava o dinheiro do grupo (Jo 12, 6; 13, 29). Tornou-se o traidor de Jesus (Jo 13, 26-27). Setenta anos depois da traição, no fim do primeiro século, o autor do quarto evangelho ainda tem raiva dele e o chama de “ladrão” (Jo 12- 4-6);
Samaritana: teve dificuldade em perceber o chamado (Jo 4, 7-30), mas tornou-se uma grande apóstola no meio do seu povo (Jo 4, 39-42);
A moça do perfume: teve a coragem de quebrar as normas da época e entrou na casa do fariseu, onde Jesus estava. Banhou os seus pés com lágrimas, enxugou-os com seus cabelos e ungiu-os com perfume (Lc 7, 36-50);
A mulher Cananéia: gritou atrás de Jesus pela saúde de sua filha doente e, chamada de cachorrinho por Jesus, teve a coragem de exigir os seus direitos como cachorrinho: receber as migalhas que caem da mesa dos filhos (Mt 15, 21-28);
O jovem rico: observava todos os mandamentos desde criança, mas chamado para abandonar tudo que tinha e dá-lo aos pobres a fim de poder seguir Jesus de perto, não teve coragem e voltou atrás (Mc 10, 17-31);
Nicodemos: era membro do Sinédrio, o Supremo Tribunal da época. Homem importante. Ele aceita a mensagem de Jesus, mas não tem coragem de manifestá-lo publicamente (Jo 3, 1). Junto com José de Arimatéia, cuidou da sepultura de Jesus (Jo 19,39);
Joana e Susana: Joana era esposa de Cusa, procurador de Herodes, que governava a Galiléia. As duas faziam parte do grupo de mulheres que seguiam a Jesus, o serviam com seus bens e subiam com ele até Jerusalém (Mc 15, 40-41; Lc 8, 2-3);
Maria Madalena: era nascida na cidade de Magdala. Daí o nome Ma(g)dalena. Jesus a curou de uma doença (Lc 8, 2). Ela o seguiu até o pé da cruz (Mc 15, 40). Depois da páscoa, foi ela que recebeu de Jesus a ordenação de anunciar aos outros a Boa Nova da Ressurreição (Jo 20, 17; Mt 28, 10);
Matias: chamado a ser apóstolo, por sorteio, após uma reunião dos outros onze apóstolos (At 1, 15-26);
Barnabé: o primeiro a partilhar os seus bens (At 4, 36s), é chamado a enfrentar missões difíceis (At 9, 26-27; 11, 22.25; 13,2);
Paulo: foi chamado num momento em que tudo indicava o contrário, pois era perseguidor (At 9, 1-19). O chamado o derruba na estrada (At 9, 4); ele fica cego (At 9, 3);
Lídia: sente o chamado ao ouvir a pregação de Paulo; torna-se a primeira coordenadora das Comunidades da Europa (At 16, 14s);
Andrônico e Júnia: são chamados por Paulo de “parentes e companheiros de prisão, apóstolos importantes que se converteram a Cristo antes de mim” (Rm 16, 7);
Febe: chamada a ser diaconisa, torna-se “irmã” de Paulo e presta seu serviço a muita gente (Rm 16, 1-2);
Timóteo: preparado pela formação recebida em casa (2Tm 1, 5; 3, 14), é chamado a ser companheiro de Paulo (At 16, 1-3);
Prisca e Áquila
: casal amigo de Paulo. Os dois respondem ao chamado, combinando as exigências das comunidades com as possibilidades da sua profissão (At 18, 2-3; Rm 16, 3-5).

Para aprofundar a vocação na Bíblia

1- Qual a origem da vocação e qual o objetivo que ela quer atingir na vida da pessoa chamada?
2- Qual a missão que a pessoa chamada recebe dentro do conjunto do povo de Deus?
3- Quais os critérios de escolha que Deus usou para chamar a pessoa?
4- Quais os recursos para realizar a missão?
5- Quais as resistências que a pessoa chamada oferece e por quê?
6- Quais os problemas que a pessoa chamada encontra na execução da sua vocação e como os enfrenta?
7- Vocação pessoal e situação do povo: como essas duas realidades estão relacionadas entre si na vida da pessoa chamada?
8- Quais as vocações que as mulheres recebem, dentro do conjunto do povo de Deus?
9- Quais os traços do rosto de Deus que transparecem em cada chamado?10- De todas essas vocações, com qual delas você mais se identifica e com quais você menos se identifica? Por quê?

Fonte: Revista Rogate de animação vocacional. Ano XXVII - nº 26 - Setembro 2008 - p. 10-13.

domingo, 14 de setembro de 2008

"Maria colocou-se a caminho" (Lc 1, 39)

“Maria colocou-se a caminho” (Lc 1,39)
Reflexão para Zeladores (as) de Capelinhas
Congresso Diocesano – 31/08/2008


1. Primeira Palavra
Estamos diante de uma frase do evangelho de São Lucas. Uma frase que identifica bem a espiritualidade e a missão do Movimento das Capelinhas.
Nas muitas capelinhas presentes na diocese de Ponta Grossa, Maria continua visitando as casas das pessoas. E aonde Maria chega, aí também chega Jesus. Maria é a grande mãe, a mulher que disse sim a Deus, a mulher que traz no seio um filho. Ela visita os lares, assim como visitou a casa de Isabel.

2. O Contexto Bíblico da Frase

O texto em que encontramos a frase “Maria colocou-se a caminho”(Lc 1,39) está situado entre dois versículos que vale a pena considerar aqui.
Em Lc 1,38 lemos: “Disse, então, Maria: ‘Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo tua palavra!’ E o Anjo a deixou.”
Em Lc 1,40 lemos: “Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel”.
Maria disse o seu SIM ao Deus que a veio visitar através do Anjo. O Anjo se afastou e Ela se colocou a caminho em direção à casa de Zacarias e Isabel.
Entre a Visita que Deus faz a Maria e a Visita que Maria faz a Isabel está a caminhada: “Maria colocou-se a caminho!” Outras traduções bíblicas dizem que “Maria se levantou e foi!” e ainda “Maria partiu!”
Maria fez a experiência da caminhada. Caminhar é fundamental para aquele que faz a experiência de Deus. Aquela que estava em casa, num lugar, já que o anjo “entrou onde ela estava” (Lc 1, 28), recebe a visita do anjo, diz o SIM e parte, sai, caminha em direção aos irmãos.
O processo que contempla-se então é o que vai da CASA DE MARIA até a CASA DOS OUTROS. Neste o CAMINHAR é fundamental.
Entre DEUS e os IRMAOS encontramos a CAMINHADA. Quando Deus termina a sua parte (o Anjo se afastou!), começa a parte daquele que é chamado (Maria colocou-se a caminho!).

3. Caminhar na Sagrada Escritura
Caminhar, para a Bíblia é fundamental. Caminhar para o discípulo de Cristo é essencial. Caminhar é o desafio que Deus faz a cada zelador e zeladora da capelinha de nossa diocese. Como Maria que caminhou ao encontro de quem precisava, cada um de nós somos chamados a caminhar em direção a quem necessita.
O povo do Antigo Testamento foi desafiado a caminhar: “Far-vos-ei subir da aflição do Egito... para uma terra que mana leite e mel”(Ex 3,17). Deus não quer que seu povo fique parado, no sofrimento, na escravidão. Ele quer que o seu povo caminhe. Caminhar é preciso! É certamente isso que Deus quer do seu povo. De tal forma Deus quer seu povo caminhando que pede que Moisés vá falar ao faraó: “Deixa o meu povo partir”(EX 7, 26).
E Deus quer que o povo caminhe de verdade! Vejamos o texto do Êxodo: “Quando o Faraó deixou o povo partir, Deus não o fez ir pelo caminho no país dos filisteus, apesar de ser mais perto, porque Deus achara que diante dos combates o povo poderia se arrepender e voltar ao Egito. Deus, então, fez o povo dar a volta pelo caminho do deserto do mar dos juncos....”(Ex 13,17-18). “E Iahweh ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem, para lhes mostrar o caminho, e de noite numa coluna de fogo para os alumiar, a fim de que pudessem caminhar de dia e de noite”(Ex 13, 21).
O povo do Antigo Testamento precisou caminhar, e caminhar muito, sem parar! Deus não quer que seu povo fique parado, no comodismo. Passam pelo mar, ultrapassam o deserto, chegam ao Sinai onde selam a aliança, pecam, mas são sempre desafiados de novo a caminhar: “Vai, sobe daqui, tu e o povo que fizeste subir do Egito.....”(Ex 33, 1).
Enfim, podemos dizer que o povo do Antigo Testamento era um povo sempre desafiado a caminhar. Para eles, caminhar era preciso. O caminhar fazia parte da sua vida.
Quando tomamos nas mãos os textos do Novo Testamento, mais precisamente os evangelhos, encontramos Jesus. Ele era o homem que caminhava. E enquanto caminhava, chamava outros a caminhar com ele. A título de referência, um texto: “Estando ele a caminhar, viu dois irmãos.... Disse-lhes: ‘Segui-me e....’ Continuando a caminhar, viu outros dois irmãos.... e os chamou.” (Mt 4,18-21). Jesus caminhava e desafiava a caminhar! E depois, todos os Evangelhos nos falam de um Jesus que caminhava, da planície à montanha, de um lado para o outro, da sinagoga à casa das pessoas. E a grande caminhada salvadora foi aquela em que tomou a cruz sobre os ombros até o lugar da crucifixão. Jesus caminhou e chamou pessoas a caminhar consigo. Como ressuscitado ele continuou a caminhar com os seus discípulos: “Aproximou-se e pôs-se a caminhar com eles” (Lc 24,15). É a experiência dos discípulos de Emaús.
Seguir Jesus é o mesmo que caminhar! Quem fica parado no seu mundo, fica para trás.
Também Maria, a grande mulher do Novo Testamento e a grande modelo da nossa vida cristã, se colocou a caminho. Maria caminhava! Ela, cheia de Deus, foi ao encontro, caminhou em direção àqueles que precisavam de ajuda.
O povo cristão de hoje é também chamado a caminhar! O Concílio Vaticano II dizia que “a Igreja continua o seu peregrinar entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus, anunciando a paixão e a morte do Senhor, até que ele venha” (LG, n. 8). Mais a frente o texto do Concílio diz que “o novo Israel do tempo atual, que anda em busca da cidade futura e permanente, se chama Igreja de Cristo... E ao caminhar por entre as tentações e as provas, ela é fortalecida pelo conforto da graça de Deus....” (LG, n. 9).
A Igreja é povo a caminho também porque os discípulos de Cristo de hoje são os enviados: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos.....” (Mt 28,19). Caminhar em direção aos outros é, então, uma exigência. Mais que tudo, hoje, uma urgência!
O Documento de Aparecida lembra que “a Igreja peregrina é missionária por natureza, porque tem sua origem na missão do Filho e do Espírito Santo, segundo o desígnio do Pai”(DA n. 347; cf AG 2).
Em síntese, podemos dizer que o povo de Deus é sempre um “povo a caminho”: da escravidão do Egito para a Terra Prometida; de Nazaré para Jerusalém; deste mundo para a glória eterna.

4. Caminhar sempre, sem parar!

Deus se revela a nós. Ele manifesta a nós o seu amor. Ele nos permite viver momentos extraordinários da sua graça. Com Maria aconteceu assim. Ela recebeu a visita do Anjo. Mas o anjo retirou-se (cf Lc 1,38).
Também os discípulos estavam felizes com a manifestação de Jesus na transfiguração. Tanto que Pedro pede para Jesus: “Rabi, é bom estarmos aqui. Façamos,pois, três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”(Mc 9,5). Era ótimo para eles ficar ali, mas parece que Jesus não permite que eles parem porque logo em seguida lemos: “ao descerem da montanha....”(Mc 9,9).
Parar é uma exigência que nos fazemos constantemente. Mas não podemos parar porque a nossa missão é caminhar, é partir, é ir ao encontro dos outros. Nós queremos parar, mas Deus quer nos ver caminhando.
Não podemos parar!
Será que não tem gente parada por aí?
Os que dizem que já fizeram muito pela comunidade e agora querem descansar, não estão parados?
Os que dizem ou se mostram como aqueles que sabem tudo, não estão parados?
Os que ficam esperando os outros fazer as coisas, não estão parados?
Eu e você, não estamos parados? Não é possível fazer mais, crescer mais, servir melhor? Não posso dar passos ainda?

5. Caminhar para levar Jesus: eis aí a nossa vocação!
Caminhar! Caminhar! Caminhar! Eis a nossa missão!
“Sair de” e “ir para: eis o que significa caminhar!
Partir ao encontro dos outros! Eis a missão especifica do zelador, da zeladora de capelinha.
Colocar-se a caminho, para servir! Eis a nossa vocação.
Caminhar significa deixar o comodismo. É sair da cadeira. É abrir o portão de casa e bater na porta da casa e do coração das pessoas. Tudo isso é muito simples e, ao mesmo tempo, extremamente complicado em nosso tempo. Mas é esta a nossa missão.
Os doentes precisam de uma palavra, de uma mão que ajude. Também precisam que lhes sejam trocadas as fraldas e que alguém lhes alimente. E esta não é a nossa vocação?
Muitas mães estão desesperadas porque foram traídas, abandonadas por seus filhos. Não é nossa missão ir ao encontro destas senhoras?
Muitas famílias não sabem mais rezar, nem mesmo sabem que Deus é amor. Não é nossa tarefa ir ao encontro delas?
Muitas pessoas precisam de ajuda. Isabel precisava e Maria foi ao seu encontro. Não somos chamados também a “colocar-nos a caminho”?
Mas é preciso levar Jesus, como Maria fez.
Levar Jesus e não normas a seguir!
Levar Jesus e não as últimas notícias que acontecem na paróquia ou entre os visinhos! (Em outras palavras, levar Jesus e não as fofocas!)
Levar Jesus e não um coração cheio de si mesmos!
Levar Jesus e não julgamentos, críticas e até condenações!
Levar Jesus através da disposição de servir!
Levar Jesus com muita simplicidade, alegria e sem medo!
Levar Jesus que enche de sentido a vida das pessoas!
Levar Jesus, como fez Maria que colocou-se a caminho!

Caminhar! Partir! Ir! Ser Missionário de Jesus. Mostrar Jesus de verdade! Que vocação maravilhosa e comprometedora Deus nos confiou!

6. Guiados pelo Espírito Santo
Mas o Espírito Santo, o mesmo que tornou fecundo o seio de Maria, o mesmo que conduz a Igreja, o mesmo que deu coragem, força e alegria a tantos que viveram antes de nós ou exerceram a missão que hoje é nossa, há de nos plenificar de graça e luz. O Espírito Santo há de fazer novas todas as coisas e também a nossa vida e missão.
“Ele, que foi derramado em nossos corações, geme e intercede por nós e com seus dons nos fortalece em nosso caminho de discípulos e missionários”(DA n. 23).
Caminhemos, cheios do Espírito Santo, para que Jesus seja conhecido, amado e seguido por todos aqueles que nós somos chamados a servir.
Coloquemo-nos a caminho, como Maria.

Pe Evandro Luis Braun,
31 de agosto de 2008.
(Texto usado em uma reflexão no Congresso Diocesano do Movimento das Capelinhas em 31 de Agosto de 2008 em Ponta Grossa-PR)

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Testemunho Vocacional (Kleber A. Pacheco)

Ola! Que a paz de Cristo esteja sempre em vossos corações.
Meu nome é Kleber Alexandre Pacheco, tenho 24 anos, sou seminarista diocesano e estou no 2° ano de filosofia. Minha família é natural de cidade de Ventania. Meu pai se chama João Pacheco e minha mãe se chama Roseli Fátima Pacheco, tenho também duas irmãs: Tatiane e Emily.
Foi dentro da minha casa que tudo começou, ou seja, graças aos meus pais que estou hoje aqui no seminário respondendo ao chamado que Deus me fez a vocação sacerdotal. Meus avós, tanto maternos quanto paternos, sempre foram bem tradicionais, sempre participavam da igreja e rezavam o terço em casa. E eles passaram esses valores também para os filhos. Recordo-me bem que quando ainda era criança, meus pais e meus irmãos, íamos todas as sextas-feiras na missa, por ser uma comunidade do interior o Pe. Optou por celebrar nas sextas-feiras. Também recordo que quando a capelinha chegava lá em casa meus pais sempre rezavam o terço juntos de joelhos diante da capelinha e eu ficava ali junto deles, rezava uma ave Maria e saia brincar um pouco pela casa, como qualquer criança eu não conseguia ficar parado!. Nas novenas de natal eu sempre acompanhava minha mãe. Há! como eu gostava de ir nessas novenas, eram bem animadas entre uma dezena e outra do terço, e os contos deixavam a novena mais bela. Enfim, cresci vendo maus pais rezando juntos. O tempo foi passando e eu continuei assimilando todos esses valores. Na adolescência comecei a me inserir em minha comunidade paroquial, ajudando naquilo que era preciso. Tudo isso contribuiu para que o chamado de Deus fosse se apresentando cada vez mais forte em minha vida. Hoje estou no seminário e me sinto muito feliz, respondendo positivamente ao chamado que Deus me fez, para trabalhar em sua vinha. A igreja doméstica, que é a família, é o lugar de oração, união, amor, e dentro desta igreja, Deus se manifesta de varias formas, e uma delas foi ter me chamado para uma vida de total consagração a Ele. Que sua igreja domestica seja um ambiente de oração, união e amor. Para que Deus possa se manifestar.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre Seja Louvado.
(Seminatista Kleber Alexandre Pacheco)

Testemunho Vocacional (Kleber A. Pacheco)

Ola! Que a paz de Cristo esteja sempre em vossos corações.
Meu nome é Kleber Alexandre Pacheco, tenho 24 anos, sou seminarista diocesano e estou no 2° ano de filosofia. Minha família é natural de cidade de Ventania. Meu pai se chama João Pacheco e minha mãe se chama Roseli Fátima Pacheco, tenho também duas irmãs: Tatiane e Emily.
Foi dentro da minha casa que tudo começou, ou seja, graças aos meus pais que estou hoje aqui no seminário respondendo ao chamado que Deus me fez a vocação sacerdotal. Meus avós, tanto maternos quanto paternos, sempre foram bem tradicionais, sempre participavam da igreja e rezavam o terço em casa. E eles passaram esses valores também para os filhos. Recordo-me bem que quando ainda era criança, meus pais e meus irmãos, íamos todas as sextas-feiras na missa, por ser uma comunidade do interior o Pe. Optou por celebrar nas sextas-feiras. Também recordo que quando a capelinha chegava lá em casa meus pais sempre rezavam o terço juntos de joelhos diante da capelinha e eu ficava ali junto deles, rezava uma ave Maria e saia brincar um pouco pela casa, como qualquer criança eu não conseguia ficar parado!. Nas novenas de natal eu sempre acompanhava minha mãe. Há! como eu gostava de ir nessas novenas, eram bem animadas entre uma dezena e outra do terço, e os contos deixavam a novena mais bela. Enfim, cresci vendo maus pais rezando juntos. O tempo foi passando e eu continuei assimilando todos esses valores. Na adolescência comecei a me inserir em minha comunidade paroquial, ajudando naquilo que era preciso. Tudo isso contribuiu para que o chamado de Deus fosse se apresentando cada vez mais forte em minha vida. Hoje estou no seminário e me sinto muito feliz, respondendo positivamente ao chamado que Deus me fez, para trabalhar em sua vinha. A igreja doméstica, que é a família, é o lugar de oração, união, amor, e dentro desta igreja, Deus se manifesta de varias formas, e uma delas foi ter me chamado para uma vida de total consagração a Ele. Que sua igreja domestica seja um ambiente de oração, união e amor. Para que Deus possa se manifestar.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre Seja Louvado.
(Seminatista Kleber Alexandre Pacheco)

O que é que permanece? (Fábio Sejanoski)

“É como a chuva que lava... é como o fogo que arrasa... Tua Palavra é assim, não passa por mim sem deixar um sinal”.
Estamos em Setembro, mês tão bonito dedicado com maior atenção à Palavra de Deus. Queremos meditar um pouco sobre como esta Palavra tem refletido na vida de cada um de nós... Sabemos que muitas coisas hoje em dia nos influenciam. Uma pessoa ao passar por nossa vida deixa marcas, deixa sinais... uma notícia, seja ouvida com atenção ou ouvida rapidamente, nos influencia... um filme que assistimos, uma música que ouvimos, uma situação que vivemos... tudo isso passa por nós e nos causa algo... causa uma conseqüência... as vezes pode ser pequena, as vezes grande demais... as vezes positiva, as vezes negativa... as vezes por alguns momentos, as vezes por toda a vida... é assim que somos! É claro que depende muito de cada um de se deixar influenciar ou não... somos livres e conscientes para permitirmos ou não tal acontecimento. Mas somente este fato de termos que decidir em permitir ou não, já é uma conseqüência, uma marca, um sinal que levamos em nossa vida. Mais uma experiência.
Mas parece que nem sempre a Palavra de Deus tem essa mesma força em nossa vida. Temos contato com a Palavra praticamente todos os dias, seja direta ou indiretamente. E o que isso significa? O que isso muda em nossa vida? Deus é uma pessoa... Deus anuncia algo para nós... Deus é uma história acontecida e que continua acontecendo em nossa vida... Deus é uma cantiga alegre aos nossos ouvidos e que age nas mais diversas situações por mais pequenas que sejam. Damos a mesma força de influência em nossa vida para a Palavra de Deus, assim como acontece com outras coisas?
Tenha certeza que as conseqüências deixadas pela Palavra de Deus, quando assumida de forma concreta e coerente, farão um bem enorme a você.
E entre tantas coisas boas que Deus te oferece em Sua Palavra, está a oportunidade de questionar-se e de responder à vocação para a qual você é chamado.
Eis que acabamos de celebrar o mês vocacional, onde refletimos sobre a vocação ao Sacerdócio, a da Família, a de ser Religioso(a) e a de ser um grande Leigo Evangelizador... Agora pergunte-se para qual destas vocações Deus te chama e aproveite este mês para que à Luz da Palavra de Deus você possa descobrir o seu caminho... Não tenha medo de responder! Seja qual for a resposta, o importante é responder!
“Tua Palavra é lâmpada para os meus pés, Senhor, Luz para o meu caminho”.
Que a Palavra de Deus faça parte da sua vida a ponto de se estabelecer e predominar diante de toda e qualquer outra situação...
(texto escrito pelo Seminarista Fábio Sejanoski - sejanoski@yahoo.com.br)

Nem tudo está perdido! (Pe. Evandro L. Braun)

Existem pessoas totalmente abertas ao novo. São desapegados de tudo e de todos. Usam as coisas, partilham as suas idéias, expressam seus sentimentos..., mas tudo com muita liberdade. São tranqüilas. Parece que descobriram o sentido profundo do existir. São seguros e otimistas. Sabem enfrentar a vida, também com os seus sofrimentos. Tudo é encarado como dom para ser colocado a serviço. Seu jeito de viver é extremamente revelador do amor. De um amor simples, desapegado, interessado pelo outro; amor cativante, sincero, profundo; amor que vai até o extremo do dar a vida.
Muitos homens e mulheres gastam seu tempo, seus bens e seus dons para servir a quem precisa. Muitos doentes e idosos também oferecem as cruzes do dia a dia para a transformação do mundo. Existem também muitos voluntários por aí. São jovens que não se cansam de lutar pela preservação da natureza. São adultos entusiasmados pela causa social. Pais e mães de família preocupados com o futuro dos filhos dos outros. Consagrados profundamente dedicados no anúncio do Evangelho.
Penso em tudo isso porque ouvi alguém dizer: “Este mundo está perdido! Veja quanta destruição, violência, falta de valores. Não existe mais solução!” Estas afirmações me fizeram refletir muito. “Será mesmo que não há mais jeito? Tudo está perdido?” Sinceramente, existem muitas coisas para mudar e para melhorar. Disso não tenho dúvidas. Mas também estou certo de que existe muito bem sendo feito, muitas maravilhas estão acontecendo, muito amor pode ser contemplado neste mundo em que vivemos. O bem ainda é mais forte do que o mal. Por isso estamos vivos. Por isso continuamos nossas lutas diárias. Por isso renovamos a nossa esperança.
É certo que muitas coisas boas permanecem escondidas. Mas elas são reais. Gostei do que disse um padre outro dia: “Uma árvore cresce devagar e sem fazer barulho. Por isso poucos a percebem. Mas quando uma árvore é derrubada todos podem perceber o barulho e estrago”. É assim também com o bem. Ele vai acontecendo no silêncio, com tranqüilidade. A maldade é barulhenta, causa estragos. Valorizemos as muitas árvores que crescem e não somente as que caem.
Não esqueçamos do que disse o concílio: “Os cristãos acreditam ser o mundo criado e conservado pelo amor do Criador; caído, sem dúvida, sob a escravidão do pecado, mas libertado pela cruz e ressurreição de Cristo, vencedor do poder do maligno; mundo, finalmente, destinando, segundo o desígnio de Deus, a ser transformado e alcançar a própria realização.” (Gaudium et Spes, n. 2).
Sejamos otimistas, pessoas que tornam concreto o amor de Deus e promovem o bem que transforma as realidades de morte.

Para Refletir e Partilhar:
1. Para você, quais pessoas são testemunhas de otimismo e esperança?
2. Você acha que tudo está perdido neste mundo em que vivemos?
3. O que você tem feito para que o mundo seja mais humano e mais cheio de amor?

(texto escrito por Pe. Evandro L. Braun / evandrobraun@bol.com.br)