quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Estudo

A Vocação na Bíblia

A Bíblia é como um algum de fotografias em que se encontra uma variedade imensa de vocações que trazem luz para iluminar a vocação que sentimos dentro de nós.
No apêndice do estudo: “Juventude: vocação e compromisso à luz da Palavra de Deus”, frei Carlos Mesters traça alguns perfis dos vocacionados e vocacionadas apresentandos na Sagrada Escritura. O autor percorreu as páginas da Bíblia olhando de perto o chamado de algumas das pessoas mais conhecidas, dando, para cada uma delas, uma breve chave de leitura.
O tema foi apresentado no XXI Curso de Verão, em janeiro de 2008, em São Paulo (SP), cuja temática geral era: “Juventude: caminhos para outro mundo possível”. O Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização (CESEP) publicou, junto com a Paulus Editora, um livro com todo o conteúdo do curso (cf. http://www.cesep.org.br/). Há inclusive, a opção de se fazer este mesmo curso “on line”.
O objetivo de Carlos Mesters, com o apêndice ao seu estudo, foi mostrar a variedade tanto no chamado como na resposta. Ele chega a designar “álbum da Família de Deus” ao elenco apresentado, feito “seguindo o critério da ordem cronológica, desde o início do tempo dos patriarcas do século XVIII antes de Cristo até o fim da época das primeiras comunidades cristãs do fim do primeiro século depois de Cristo”. O autor recorda que outros critérios de divisão e seleção poderiam ser utilizados, como, por exemplo, a origem da vocação, função ou missão, problemas enfrentados pela pessoa chamada na execução da sua vocação, mulheres ou homens, jovens ou idosos. E lembra que o quadro poderá ser completado, “olhando a vocação das muitas outras pessoas que não foram lembradas no elenco”. As perguntas colocadas ao final do apêndice ajudam no estudo aprofundado de cada uma das vocações.
Aqui apresentamos apenas a relação dos vocacionados e vocacionadas da época de Jesus e das comunidades dos primeiros cristãos. Mas recomendamos o estudo completo, inclusive do tema apresentado no Curso de Verão.

A variedade das vocações dentro do mesmo Projeto de Deus
A maneira de Deus chamar as pessoas é muito variada. Nenhuma vocação se repete. Chama Abraão e Sara de um jeito, e Maria Madalena de outro jeito. Também a maneira de perceber a vocação é diferente, e diferentes são as respostas que são dadas. Uns oferecem resistências, outros aceitam logo. Uns, como Jeremias, têm problemas e dúvidas, lutam com a vocação até o fim da sua vida. Outros, como Amós, não têm problemas nem dúvidas e aceitam o chamado que se torna eixo de suas vidas. Uns são chamados desde a juventude; e outros, só depois de velhos. Uns são chamados para uma tarefa bem limitada; e outros, para uma missão que envolve a vida inteira.
A Palavra que chama, às vezes, se impõe com força irresistível, como fogo dentro dos ossos (Jr 20, 9) ou como martelo que arrebenta as rochas (Jr 23, 29). Outras vezes, deixa a pessoa na revolta e no sofrimento (Jr 20, 7-18), outras vezes na alegria (Jr 15, 16). Para uns, o chamado de Deus vem com muita clareza; para outros, não há clareza nenhuma, eles não percebem nada de Deus. Sentem apenas uma necessidade humana que não pode ficar sem resposta. E quando, no julgamento final, Deus os elogia (Mt 25, 34-35), eles dizem: “Quando foi que vi o senhor com fome e sede, sem roupa e na prisão, doente? Não estou lembrado!” (Mt 25, 37-39). E Deus responderá: “Foi quando você ajudou aquela pessoa pobre. Era eu!” (Mt 25, 40).
Umas pessoas são chamadas para libertar o povo (Is 61, 1; Ex 3, 10); outras, para organizá-lo, para presidir suas assembléias, organizar o culto, cantar, profetizar, denunciar, animar, anunciar, aconselhar, guiar, reprimir, governar (Rm 12, 4-8; 1Cor 12, 4-11). Vocação para missões grandes e missões pequenas, importantes e menos importantes, ligadas ao povo todo e ligadas a um pequeno grupo. Missões que valem para muitas gerações, outras que valem para pouco tempo ou só para a pessoa que a recebe.
Para chamar as pessoas, Deus usa os mais variados meios de comunicação: sorteio, aclamação, indicação da comunidade, percepção das necessidades do povo, ação de bravura, perigo de guerra, chamado interior, aparição de anjo, sonhos, chamado de um companheiro etc. etc. ... Nenhuma vocação se repete.
O chamado de Deus não tira a liberdade das pessoas, pois elas reagem: “Quem sou eu?”. Cada um reage do seu jeito diante da missão que recebe. Cada um trava duas lutas dentro de si: a grande luta da transformação do mundo e a pequena luta da conversão pessoal. Ambas são igualmente importantes.
Zacarias: não foi capaz de crer no chamado e ficou mudo (Lc 1, 11-22);
Isabel: era estéril, mas acreditou no chamado, concebeu e tornou-se capaz de reconhecer a presença de Deus em Maria (Lc 1, 23-25.41-45);
João Batista: chamado desde o seio materno (Lc 1, 11-17), assume a missão com coragem (Mc 6, 17-29). É o primeiro profeta depois de muitos séculos de silêncio (Lc 1, 59-66; Mt 11, 7-15);
José: chamado a ser o esposo de Maria, rompe com as normas do machismo da época, e não manda Maria embora (Mt 1, 18-25);
Maria: acostumada a ruminar os fatos (Lc 2, 19-51), percebe e acolhe a Palavra, trazida pelo anjo Gabriel, a ponto de encarná-la em seu seio, em sua própria vida (Lc 1, 26-38);
Apóstolos: foram chamados para estarem com Jesus, para anunciarem a palavra e para combaterem o poder do mal (Mc 3, 13-19). O chamado de cada um dos doze e de algumas discípulas encontra-se no capítulo VI: “Jesus chama pessoas para estarem com ele e irem em missão”;
Pedro: pessoa generosa e entusiasta (Mc 14, 29.31; Mt 14, 28-29), mas na hora do perigo e da decisão, o seu coração encolhia e voltava atrás (Mt 14, 30; Mc 14, 66-72). Jesus rezou por ele (Lc 22, 31);
Tiago e João: dois irmãos. Estavam dispostos a sofrer com Jesus (Mc 10,39), mas eram violentos (Lc 9, 54). Jesus os chamou “filhos do trovão” (Mc 3, 17). João pensava ter o monopólio de Jesus. Jesus o corrigiu (Mc 9, 28-40);
Filipe: tinha jeito para colocar os outros em contato com Jesus (Jo 1, 45-46), mas não eram muito prático em resolver os problemas (Jô 6, 5-7; 12, 20-22). Parecia um pouco ingênuo. Jesus chegou a perder a paciência com ele: “Filipe, tanto tempo que estou com vocês, e você ainda não me conhece?” (Jô 14, 8-9);
André: pessoa prática. Foi ele que encontrou o menino com cinco pães e dois peixes (Jo 6, 8-9). É a ele que Filipe se dirige para resolver o caso dos gregos que queriam ver Jesus (Jo 12, 20-22), e é André que chama Pedro para encontrar-se com Jesus (Jo 1, 40-43);
Tomé: com teimosia sustentou sua opinião, uma semana inteira, contra o testemunho de todos os outros (Jo 20, 24-25). É que o Jesus ressuscitado em quem Tomé acreditava tinha de ser o mesmo Jesus que fora crucificado e que carregava os sinais da tortura no corpo (Jo 20, 26-28);
Natanael: era bairrista e não podia admitir que algo de bom pudesse vir de Nazaré (Jo 1, 46). Mas quando Jesus lhe explica, ele s entrega (Jo 1, 49). Este Natanael aparece só evangelho de João. Alguns o identificam com o Bartolomeu que aparece na lista do evangelho de Marcos (Mc 3, 18);
Mateus: era um publicano, pessoa excluída pala religião dos judeus (Mt 9, 9). Sabemos pouco da sua vida. Nos evangelhos de Marcos e Lucas ele é chamado Levi (Mc 2, 14; Lc 5, 27). O nome Mateus significa “dom de Deus”. Os excluídos são “mateus” (dom de Deus) para a comunidade;
Simão: era um zelote (Mc 3, 18). Dele, só sabemos o nome e o apelido. Nada mais. Ele era zelote, isto é, fazia parte do movimento popular que na época se opunha à dominação romana;
Judas: guardava o dinheiro do grupo (Jo 12, 6; 13, 29). Tornou-se o traidor de Jesus (Jo 13, 26-27). Setenta anos depois da traição, no fim do primeiro século, o autor do quarto evangelho ainda tem raiva dele e o chama de “ladrão” (Jo 12- 4-6);
Samaritana: teve dificuldade em perceber o chamado (Jo 4, 7-30), mas tornou-se uma grande apóstola no meio do seu povo (Jo 4, 39-42);
A moça do perfume: teve a coragem de quebrar as normas da época e entrou na casa do fariseu, onde Jesus estava. Banhou os seus pés com lágrimas, enxugou-os com seus cabelos e ungiu-os com perfume (Lc 7, 36-50);
A mulher Cananéia: gritou atrás de Jesus pela saúde de sua filha doente e, chamada de cachorrinho por Jesus, teve a coragem de exigir os seus direitos como cachorrinho: receber as migalhas que caem da mesa dos filhos (Mt 15, 21-28);
O jovem rico: observava todos os mandamentos desde criança, mas chamado para abandonar tudo que tinha e dá-lo aos pobres a fim de poder seguir Jesus de perto, não teve coragem e voltou atrás (Mc 10, 17-31);
Nicodemos: era membro do Sinédrio, o Supremo Tribunal da época. Homem importante. Ele aceita a mensagem de Jesus, mas não tem coragem de manifestá-lo publicamente (Jo 3, 1). Junto com José de Arimatéia, cuidou da sepultura de Jesus (Jo 19,39);
Joana e Susana: Joana era esposa de Cusa, procurador de Herodes, que governava a Galiléia. As duas faziam parte do grupo de mulheres que seguiam a Jesus, o serviam com seus bens e subiam com ele até Jerusalém (Mc 15, 40-41; Lc 8, 2-3);
Maria Madalena: era nascida na cidade de Magdala. Daí o nome Ma(g)dalena. Jesus a curou de uma doença (Lc 8, 2). Ela o seguiu até o pé da cruz (Mc 15, 40). Depois da páscoa, foi ela que recebeu de Jesus a ordenação de anunciar aos outros a Boa Nova da Ressurreição (Jo 20, 17; Mt 28, 10);
Matias: chamado a ser apóstolo, por sorteio, após uma reunião dos outros onze apóstolos (At 1, 15-26);
Barnabé: o primeiro a partilhar os seus bens (At 4, 36s), é chamado a enfrentar missões difíceis (At 9, 26-27; 11, 22.25; 13,2);
Paulo: foi chamado num momento em que tudo indicava o contrário, pois era perseguidor (At 9, 1-19). O chamado o derruba na estrada (At 9, 4); ele fica cego (At 9, 3);
Lídia: sente o chamado ao ouvir a pregação de Paulo; torna-se a primeira coordenadora das Comunidades da Europa (At 16, 14s);
Andrônico e Júnia: são chamados por Paulo de “parentes e companheiros de prisão, apóstolos importantes que se converteram a Cristo antes de mim” (Rm 16, 7);
Febe: chamada a ser diaconisa, torna-se “irmã” de Paulo e presta seu serviço a muita gente (Rm 16, 1-2);
Timóteo: preparado pela formação recebida em casa (2Tm 1, 5; 3, 14), é chamado a ser companheiro de Paulo (At 16, 1-3);
Prisca e Áquila
: casal amigo de Paulo. Os dois respondem ao chamado, combinando as exigências das comunidades com as possibilidades da sua profissão (At 18, 2-3; Rm 16, 3-5).

Para aprofundar a vocação na Bíblia

1- Qual a origem da vocação e qual o objetivo que ela quer atingir na vida da pessoa chamada?
2- Qual a missão que a pessoa chamada recebe dentro do conjunto do povo de Deus?
3- Quais os critérios de escolha que Deus usou para chamar a pessoa?
4- Quais os recursos para realizar a missão?
5- Quais as resistências que a pessoa chamada oferece e por quê?
6- Quais os problemas que a pessoa chamada encontra na execução da sua vocação e como os enfrenta?
7- Vocação pessoal e situação do povo: como essas duas realidades estão relacionadas entre si na vida da pessoa chamada?
8- Quais as vocações que as mulheres recebem, dentro do conjunto do povo de Deus?
9- Quais os traços do rosto de Deus que transparecem em cada chamado?10- De todas essas vocações, com qual delas você mais se identifica e com quais você menos se identifica? Por quê?

Fonte: Revista Rogate de animação vocacional. Ano XXVII - nº 26 - Setembro 2008 - p. 10-13.

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