domingo, 19 de agosto de 2007

A Espiritualidade do Animador Vocacional (Pe. Evandro)

5. A Espiritualidade do Animador Vocacional

Tento por base as indicações apresentadas até agora, temos chão para falar da “espiritualidade do seguimento de Jesus”. Esta é a espiritualidade do agente vocacional. Jesus é aquele que quer levar todos à vida plena e quem quer levar as pessoas à vida plena é chamado a seguir Jesus.
A “espiritualidade do seguimento de Jesus” começa a partir de um ENCONTRO. O encontro com Cristo plenifica a vida das pessoas e as ajuda a perseverar na vocação e na missão. “Mas, para que se dê este encontro, é indispensável reconhecê-lo na história, nas escrituras, nos desafios do mundo e no próximo, especialmente nos sofredores, como os quais Ele se identificou. Celebramos este reconhecimento na Eucaristia, centro e síntese de todas as presenças do Senhor entre nós.” (Doc Final do 2º Congresso Vocacional do Brasil, n. 22). Este encontro também é concreto na comunidade e nos acontecimentos da vida.

“A espiritualidade do seguimento de Jesus é uma espiritualidade da eleição, através da qual a pessoa sente-se amada e querida pela Santíssima Trindade, nascendo dessa experiência uma grande paixão por Deus e pela humanidade. Do encantamento brota o amor, o testemunho fascinante, a felicidade e a fidelidade pela opção feita e, consequentemente, a capacidade de partilhar gratuitamente os dons recebidos pessoalmente e na comunidade.” (Doc Final do 2º Congresso Vocacional do Brasil, n. 23). Quando se fala da Vocação e o Mistério da Santíssima Trindade, não podemos deixar de valorizar duas maneiras de ser: comunhão e diversidade.
A espiritualidade do seguimento de Jesus é uma realidade conflituosa (cf Lc 12,49-53), “pois a opção por Jesus e pelo Reino comporta incompreensões, perseguições e sofrimentos. Mas é também no conflito que se dá a configuração com Jesus, o Filho de Deus que se encarnou.” (Doc Final do 2º Congresso Vocacional do Brasil, n. 24).

A espiritualidade do seguimento de Jesus “precisa ser inculturada. Só assim ela será acolhedora e permitirá aos animadores vocacionais apresentar a pessoa e a mensagem de Jesus aos que estão nas “praças”. A inculturação possibilita uma presença afetiva e efetiva no meio dos vocacionados e vocacionadas. E isso contribui para que estes encontrem sua própria dignidade e tenham condições de fazer escolhas livres, conscientes e responsáveis.” (Doc Final do 2º Congresso Vocacional do Brasil, n. 25).

A espiritualidade do seguimento de Jesus leva em conta a dimensão social do compromisso cristão (cf. Ecclesia in America, n. 29). A misericórdia de Deus pelos simples e pobres não pode ficar distante da vida do animador vocacional. Deus se dá a conhecer e pede um sim de todos, também dos mais humildes, abandonados e sofredores.

A espiritualidade do seguimento de Jesus dá um destaque particular a Maria. “Ela, como afirmou o Concílio Vaticano II, ‘é o tipo da Igreja na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo’(LG, 63). Por esta razão, aquela que acolheu com um Sim perfeito o convite do Pai, se torna um modelo e um exemplo para a Igreja e para cada vocacionado e vocacionada... Maria é exemplo de acolhimento da vontade divina, da relação com a Trindade e da disponibilidade para o serviço. Ela ajuda também a permanecer de pé, a não retroceder, mesmo quando a resposta ao chamado e o amor à Igreja comportarem cruz e sofrimento.” (Texto Base do 2º Cong. Vocacional do Brasil, n. 118).

A espiritualidade do seguimento de Jesus “se alimenta de momentos profundos de oração, a exemplo de Jesus que se retirava na montanha para rezar” (Doc Final do 2º Congresso Vocacional do Brasil, n. 29). “Entre os elementos de espiritualidade que todo cristão deve fazer próprios, ressalta a oração. Esta o levara, aos poucos, a ver a realidade com um olhar contemplativo, que lhe permitira reconhecer a Deus em cada instante e em todas as coisas; contemplá-lo em cada pessoa; procurar cumprir sua vontade nos acontecimentos. A oração, tanto pessoal como litúrgica, é dever de cada cristão. Jesus, evangelho vivo do Pai, nos avisa que sem ele nada podemos fazer (cf Jo 15, 5)” (Ecclesia in America, n. 29). “Só a experiência do silencio e da oração oferece o ambiente adequado para amadurecer e desenvolver-se um conhecimento mais verdadeiro, unido e coerente daquele mistério cuja expressão culminante aparece na solene proclamação do evangelista João: ‘E o Verbo se fez carne e habitou no meio de nós...’(Jo 1,14).” (Novo Millennio Ineunte, n. 20). A oração “é o segredo de um cristianismo verdadeiramente vital, sem motivos para temer o futuro....” (Novo Millennio Ineunte, n. 33).
A espiritualidade do seguimento de Jesus alimenta-se, sobretudo, por uma constante vida sacramental, pois os sacramentos são fonte e raiz inexaurível da graça de Deus necessária para amparar o fiel na sua peregrinação terrena. A vida sacramental não pode tornar-se uma prática rotineira (Ecclesia in América, n. 29).

A espiritualidade do seguimento de Jesus se fundamenta na Palavra. Só a Palavra “deverá ser capaz de dar sentido à existência humana, ajudando as pessoas a perceberem os apelos divinos dentro da história, inclusive nos seus aspectos mais sombrios e sofridos.” (Texto Base do 2º Cong. Vocacional do Brasil, n. 117). Deve-se hoje “dar clara prioridade à reflexão piedosa da Sagrada Escritura, por parte de todos os fieis (Lectio Divina)”(Ecclesia in America, n. 31). “A contemplação do rosto de Cristo não pode inspirar-se senão naquilo que se diz dele na Sagrada Escritura, que está, do princípio ao fim, permeada pelo seu mistério...” (Novo Millennio Ineunte, n. 16). “É necessário que a escuta da Palavra se torne um encontro vital” (Novo Millennio Ineunte, n. 39).

A espiritualidade do seguimento de Jesus contempla duas dimensões: “a mística e a ascese. Através da experiência mística a pessoa é envolvida pelo mistério Daquele que nos amou primeiro (cf 1 Jo 4,10) e que, pelo seu Espírito, habita em cada coração humano (cf Rm 8,11). Enquanto ascese, a espiritualidade consiste no desejo, na vontade e no esforço de acolher o dom da vocação (cf 2 Pd 1,3-11).” (Texto Base do 2º Cong. Vocacional do Brasil, n. 117).
Seguir Jesus não significa outra coisa do que viver a vida de Jesus, ser seu discípulo. “É Jesus quem elege o discípulo, o chama e o convida a seguí-lo com generosidade, dando a vida como o Mestre (Lc 9,57-62), Jesus ‘separa’ seu eleito ‘do mundo’ para ‘fazê-lo seu’... O discipulado é um modo de ‘ser’e de ‘fazer’gerado pelo encontro com Jesus vivo.”(Santiago Silva Retamales. In. Os Discípulos de Jesus: Relatos e imagens de Vocação e missão na Bíblia, 2007. p. 130).
Exige-se do discípulo de Jesus, uma opção radical e pessoal por ele. Opção esta que muda toda a vida.

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